sábado, fevereiro 02, 2008

Assobios

Fiquei desgostoso por ver a semana que se seguiu a uma vitória deliciosa sobre o Porto ficar marcada pelos assobios no jogo com o Penafiel, que ainda por cima nos garantiu a presença na final da Taça da Liga.
Sobre o tema assobios, começo por fazer uma declaração de princípio: nunca na minha vida de adepto compulsivo de bancada assobiei um jogador, um treinador, um dirigente ou um apanha-bolas do SPORTING. Não significa isto que considere anti-sportiguista quem o faz. Bem sei que muita gente exprime assim o seu amor pelo Clube. E, para além disso, vivo saudoso de um tempo em que o público interferia mais no espectáculo, em que os estádios não estavam cheios desses locutores imbecis de microfone em punho, armados em maestros das claques.
A propósito dos assobios de 4ª feira, acho o seguinte: os jogos da Taça de Portugal e da Taça da Liga têm uma assistência muito diferente dos do campeonato. Tenho reparado que há muitos titulares de gamebox que não vêm ao Estádio nos jogos das Taças e, pelo contrário, há muita gente que aproveita estas partidas para vir, talvez por os preços serem mais baixos. Ora, são precisamente estes espectadores ocasionais que demonstram uma maior propensão para a prática irritante do assobio. A explicação pode ser esta: seguindo normalmente a carreira da equipa pela comunicação social, estes adeptos estão contaminados pelo matraquear da intriga, da insídia, do sensacionalismo e do bota-abaixo que faz o dia-a-dia do relacionamento da comunicação social com o futebol, fenómeno agravado no caso do SPORTING pela escandalosa pouca vergonha dos profissionais dessa comunicação social ao serviço da grande cosa nostra de Carnide.
Até por este facto, a reacção a quente do nosso treinador, dizendo que os adeptos estão fartos dele, foi excessiva e pareceu-me um recado para dentro do Clube, o que, a ser verdade, não é um procedimento correcto, para além de não ser um bom indício. Paulo Bento bem poderia ter dito que compreendia a ansiedade dos adeptos em ver jogar Rodrigo Tiuí, mas que se impunha naquela altura fazer entrar o Farnerud. Deitava-se água na fervura e protegia-se o sueco.
Na medida em que se tenham dirigido directamente a Farnerud, os assobios são injustos e representam um comportamento censurável - não se assobia quem ainda nem entrou. Pena foi que o nosso Pontus, na sua primeira jogada, tivesse falhado aquele golo. Ao meu lado, o primeiro assobiador que se atrevesse a comemorar, ouvia logo.
Há muito anos, numa tarde de futebol de Alvalade, o público, exasperado já não lembro com quê, lembrou-se de assobiar o nosso grande capitão, Manuel Fernandes. O Manel, assim que ouviu o coro, não esteve com meias medidas: pegou na bola, parou-a com o pé, virou-se para a bancada e fez um manguito!... Tinha toda a razão - no Estádio inteiro, não havia nenhum mais sportinguista do que ele...