quarta-feira, agosto 20, 2008

Jogos Olímpicos (III)

1. Sobre a presença de atletas portugueses no Jogos Olímpicos convém esclarecer que só foram a Pequim os atletas que cumpriram os mínimos estabelecidos pelas diversas federações internacionais. Não houve convites nem facilidades. Portanto, primeiro ponto, só lá está quem mereceu lá estar.

2. No desporto, como em muitas coisas na vida, há dias que correm bem e dias que correm mal. Chamam-lhe a gloriosa incerteza do desporto. Tenho visto todos os dias nas finais olímpicas de atletismo, gigantescas surpresas, com atletas dados como vencedores antecipados a não ficarem sequer nas medalhas. Tyson Gay, por exemplo, nem foi à final dos 100 metros!

3. O que os Jogos de Pequim deixaram claro foi que os atletas portugueses que formam a delegação olímpica, para além dos feitos atléticos que os levam aos Jogos, devem ser alvo de uma formação rápida em contactos com os media. Pelo menos com um pequeno briefing antes de falarem com a comunicação social. O que, obviamente, não sucedeu. A maior parte deles, tirando meia dúzia, são atletas sobre os quais nunca incidiu nenhum foco mediático, muitos nem jornalistas têm a assistir às suas provas de todo o ano, mas nos Jogos são obrigados a lidar com isso. Assim se explicam algumas declarações infelizes. Tem de haver mais profissionalismo nesta matéria. Deve ser para isso que serve o adido ou o assessor de imprensa, também para «treinar» os atletas a enfrentarem os media. Provavelmente, em vez de um assessor, para uns Jogos onde Portugal tem quase oitenta atletas, deviam ser uns três ou quatro. Além do mais, a manhosa figura que foi o adido de imprensa de Portugal nos Jogos de Pequim deve ter mais do que fazer...do que proporcionar esse media training. Mas juntar toda a comitiva antes da partida e dar-lhes duas ou três sessões de media training seria certamente uma boa medida para edições futuras dos Jogos Olímpicos.

4. Mas, já agora, que exista mais profissionalismo em tudo, até nos dirigentes. Antes dos Jogos de Pequim ouvi o senhor chefe da delegação portuguesa a dizer que a escolha de Nelson Évora para porta-estandarte da cerimónia de abertura era motivada pelo facto do Nelson se ter estreado numa grande competição internacional na mesma altura e competição em que o senhor chefe de delegação se tinha estreado nessas funções. Obviamente, e isto nada tem a ver com a figura de Nelson Évora, esta é uma justificação totalmente imbecil e discricionária (vá lá que o senhor chefe de delegação não tinha nenhum primo ou prima a competir...) e absurda. A escolha de um porta-estandarte deve ter um claro significado, deve ser simbólica para o País, não para o senhor chefe de delegação.