sexta-feira, março 16, 2007

Declaração de interesses

Neste momento em que, a nove pontos do primeiro e a cinco do segundo, vamos jogar ao Dragão uma semana antes do Benfica-Porto, não surpreende que alguns sportinguistas se sintam dilacerados pela tentação do "voto útil", que os levaria a desejar amanhã uma vitória do FCP, apenas como forma de contribuir para que o Benfica não seja campeão.
Não me quero furtar a partilhar com todos a minha perspectiva sobre este tema.
Em primeiro lugar, devemos reconhecer que a questão só se coloca para os sportinguistas que, entre FCP e SLB, preferem que seja o Porto a ganhar - é, começo por esclarecer, o meu caso. Isto não significa, contudo, que considere menos sportinguistas os que preferem o contrário e, muito menos, aqueles para quem é indiferente uma coisa ou outra.
Seja como for, a minha posição é clara: quero, com toda a convicção, que o SPORTING ganhe amanhã. É o coração que mo diz e, se há regra em que acredito piamente na vida, é que em questões do coração deve ser o coração a decidir.
Temos de atentar que, apesar do atraso, ainda faltam muitas jornadas para o fim. E não nos podemos esquecer de que o 2º lugar proporciona a qualificação directa para a Liga dos Campeões e constitui, por isso, um objectivo autónomo.
Mas a grande razão para desejar a vitória do SPORTING é de princípio e não de conveniência. O SPORTING tem responsabilidades muito especiais no desporto nacional. O sportinguismo foi sempre uma escola à parte. Aqui, cultiva-se desde o berço a lealdade, a elevação e o jogo justo. Os falsificadores de resultados, de calabotes a apitos dourados, sempre foram de outros clubes. O SPORTING nunca se dedicou à contrafacção da sua própria história, tendo todo o orgulho em assinalar a sua fundação na data em que o Clube foi, de facto, criado. Não é de leão ao peito que jogam os recordistas do doping. Não estamos habituados a receber visitas da Polícia Judiciária. Os nossos adeptos nunca mataram ninguém em estádios de futebol. Não temos guardas abéis, nem empresários falidos virados dirigentes. O estádio e o centro de estágio foram construídos à nossa custa, sem os chorudos subsídios do Estado e das autarquias que outros receberam. Os nossos dirigentes nunca nos fizeram passar a vergonha de declarar o apoio do Clube a um partido político, nem o Clube se deixou alguma vez ficar refém de projectos de poder pessoal e de influência política ou regional. Dentro e fora do campo, têm-nos roubado muito - mas têm de levar connosco. Têm de levar com as nossas vitórias e têm de levar com o nosso exemplo. Que é o que, às vezes, mais lhes custa.
A minha rejeição do "voto útil" não é, no entanto, absoluta. Se fosse a última jornada, se a vitória não servisse para nada e desse o título ao rival, desejaria que ganhasse o Porto. Mas, atenção: não desejaria que o SPORTING entregasse o jogo ao adversário. Desejaria que perdesse, mas desejaria que se batesse pela vitória, como é apanágio do nosso emblema. Neste Clube, não sabemos o que é ganhar a qualquer preço. Deixamos esses "utilitarismos" para os bem sucedidos srs. Veigas, Vieiras, Pintos da Costa e Valentins.
Posto isto, deixo explicado para que lado baterá amanhã à noite este velho coração.
Força SPORTING! Força meu querido SPORTING!