domingo, março 04, 2007

Deplorável

Já todos conhecemos esta característica tão portuguesa de exagerar as virtudes de qualquer falecido, a maior parte das vezes antes de o remeter rapidamente para o mais vil esquecimento. Com a morte na semana passada do antigo guarda-redes do Benfica e da selecção nacional Manuel Bento foram a este respeito ultrapassadas todas as marcas do bom gosto e da decência. A morte de uma figura pública e os elogios que lhe estão normalmente associados não devem servir para exprimir facciosismos deprimentes, sob pena de ser atingida a própria memória do falecido. É justíssimo destacar que Bento foi um dos melhores guarda-redes de todos os tempos do futebol português. Proclamar, como o fizeram vários arautos deste benfiquismo versão pimba com que convivemos, que foi o melhor guarda-redes português de todos os tempos, sendo uma opinião como qualquer outra, significa que se pretende utilizar a comoção provocada pela morte súbita de um jogador para diminuir os que se relegam para uma posição supostamente secundária. Já com Miklos Féher tínhamos assistido a este escandaloso aproveitamento da comoção suscitada pela morte. O benfiquismo tem hoje uma compostura não muito diferente de um qualquer Moqtada-al-Sadr, disposto a tudo e a qualquer preço. No caso da morte de Bento, o exagero visava ainda para mais atingir muito em especial uma pessoa que já cá não está para se defender - Vitor Damas. Numa palavra, deplorável.